Ailton Ferreira

Isola ele!!!

Na manhã desta quarta-feira, um irmão me fez a seguinte afirmação:

  • “esse é o preço que nós estamos pagando por ter colocado a pessoa errada no lugar errado”.

“A pessoa errada, no lugar errado”, a quem o irmão se referia, é o presidente da República, o Sr. Jair Bolsonaro. Ele afirmou que a situação da pandemia na Itália é diferente do estágio do coronavírus, no Brasil. Ele errou!

Ele errou porque não considerou as contradições italianas, no enfrentamento da crise, causada pela pandemia. Pois bem, os três pilares fundamentais, para reduzir os efeitos do coronavírus, são:

1) as atitudes das autoridades públicas, diante das incertezas apresentadas, pelos efeitos da COVID-19;
2) a capacidade do governo, para implementar medidas de prevenção da doença;
3) a estrutura e a competência públicas, para atender às pessoas, usuárias do sistema de saúde.

Pois bem, na Itália, importante país da União Europeia, o governo central criou o cordão de isolamento sanitário – medida tardia – mas que pretendeu fazer o isolamento social. Por sua vez, o senador e ex-vice primeiro – ministro, Matteo Salvini e os estados por ele influenciados, defendeu, publicamente, a abertura do comércio e a flexibilização do funcionamento de museus e parques públicos, criando uma confusão, nas cabeças dos italianos.

Por mais de duas semanas, a Itália viveu sob a disseminação de instruções conflitantes, que confundiam a proposta de distanciamento social, com o chamado “processo de exclusão social”, politizando, de forma banal e torpe, o debate sobre a saúde pública, frente à uma pandemia, que mobiliza as maiores autoridades em saúde do planeta. O resultado dos tropeços na Itália é o quadro de 7.500 pessoas mortas.

No Brasil, o quadro é de esperança! A sociedade está solidária, as informações fluem rapidamente, como um potente antídoto, a ciência está a serviço da população, os Governos dos estados e as Prefeituras, trabalham conjuntamente na prevenção, através do distanciamento social, medidas muitas vezes antipáticas, para quem disputa o voto popular. O Ministério da Saúde, através do ministro Luís Henrique Mandetta, posiciona-se com rigor técnico, respeito ao cargo e ao público e observando as orientações da Organização Mundial de Saúde. Tudo no seu lugar, menos aquela pessoa errada, no lugar errado, como me falou o irmão nesta manhã.

Enquanto o presidente chama a pandemia de “um resfriadozinho”, os Governos dos estados brasileiros e as Prefeituras, fortalecem a orientação para o isolamento social. Enquanto o presidente chama a pandemia de “uma gripezinha”, o Comitê Olímpico Internacional adia a data de realização dos Jogos Olímpicos, para o ano de 2021.

Não creio que o presidente seja capaz de fazer repetir o triste caos italiano. Felizmente, enquanto ele falava na TV, ontem à noite, uma parte do Brasil planejava e executava as medidas de isolamento social, outra parte as cumpria, dentro de suas casas e outra parte, batia panelas.

Não se trata, aqui, de politizar o debate, nem para a esquerda, nem para a direita. Países com governos de direita estão fazendo o dever de casa, na contra-mão do que pensa e fala o presidente. Os Estados Unidos; a Espanha; a Bolívia; o Chile; a Noruega; a Dinamarca; a Suíça; a Turquia e porque não dizer, a Itália, que tem um governo de coalizão entre sociais-democratas e conservadores, todos lutam contra o coronavírus.

O presidente não percebe que existe um lugar na política, um território real para além da sua mente. Até os autocratas mais ferrenhos, são obrigados a entender as circunstâncias, para não ficarem isolados no limbo da história. Ele não respeita nem os seus liderados.

O sociólogo espanhol Ortega e Garcez, um pensador conservador, nos ensinou que “o homem é ele e as suas circunstâncias”. Mas o presidente não entendeu, aind,a que está refém dos seus próprios mesquinhos sentimentos, e por isso, está ficando só e isolado; está que nem o vírus, que juntou todos e tudo contra ele.

É pouco crível que orientações de obtusos empresários, tenham adentrado o gabinete presidencial, no Palácio do Alvorada, levando a ideia de encerrar o isolamento social e de abrir as escolas, neste momento de incertezas e riscos, para salvar a economia.

Quando não se sabe bem o que dizer, diante de crises de tamanha proporção, o mais prudente é manter a boca fechada.

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Ailton Ferreira

Sociólogo e educador.

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